Voltar

Limites e responsabilidades da influência: o caso da Riachuelo/Moschino

O mercado da influência é polpudo. Dá muita grana para um número pequenino de figuras públicas. Marcas de todo tipo fazem uso dele. Essa semana, por exemplo, a Riachuelo lançou uma coleção com a Moschino, marca italiana. Muitas influenciadoras participam da campanha: Rafa Kalimann, Thaynara OG, Luisa Sonza, Fernanda Souza, Pequena Lo, Cleo Pires, Hugo Gloss. Sorrindo, felizes, para a marca.

O dono da Riachuelo é o empresário bolsonarista Flavio Rocha. Apoiador declarado, é ponte com outros empresários, participa de reuniões com Bolsonaro, disse que taxar grandes fortunas “expulsa os ricos” do país. Barbaridades não faltam. Em casos como esse, de um apoiador bastante conhecido, como é Flavio Rocha, eu me pergunto como as figuras públicas podem (ou devem?) agir.

Apoiar Bolsonaro em 2021 é um grande absurdo. Flavio Rocha o faz sem nenhuma vergonha. Figuras públicas que fazem campanha para a Riachuelo não estão abraçando literalmente o empresário, mas estão validando sua marca, seu negócio, ao se relacionar com ela e sugerir que suas audiências, gigantescas, também o façam.

É claro que o negócio do Flavio Rocha não depende APENAS dessas figuras públicas, mas um time de peso faz toda a diferença nas campanhas e nas vendas.

Diante desse cenário, eu me pergunto (de verdade mesmo): o que é possível cobrar das grandes figuras públicas? É, antes disso, possível cobrar algo delas? Rafa Kalimann afirma em vídeo recente q escolhe muito bem com quem vai trabalhar. Isso significa q ela está de acordo com a postura do dono da marca? Ou não se importa com isso? Ou, mesmo tendo todo acesso, ela não sabe o q ele pensa?

E digo isso porque estou falando de figuras que têm muitos contratos bem grandes, podem escolher o que fazer. Não é gente q vende o almoço para comprar a janta, fazendo aqui um tenebroso trocadilho, que tem tudo a ver com o que vivemos no país hoje, muito em função da postura grotesca de Bolsonaro e da classe empresarial que o apoia.

Tais figuras públicas não são responsáveis pelas ações de Flavio Rocha, evidente. Mas ao fazer campanha para a Riachuelo, contribuem para que ele siga crescendo através da marca.

O objetivo aqui não é ser maniqueísta ou moralista, mas me pergunto: quais os limites e responsabilidades das figuras públicas?